13.5.17

Capitulo 19

CAPITULO 19

Joseph

Na quinta-feira à tarde, a irmã de Jenny dá uma grande festa para ela e JD na casa de seus pais. É mais elegante do que o assado de domingo, mas não tão extravagante como um catering para eventos organizado. Os noivos renunciaram a despedida de solteiro, para grande desgosto de Ruby. Parece que ela estava ansiosa para dar a sua irmã mais nova o tipo de despedida que incluía bombeiros strippers e passeios de touro mecânico. Obviamente, Ruby não tem conhecimento das tendências pervertidas de sua irmã, e o fato de que ela já tem a sua própria coleção de algemas, os strippers provavelmente teriam sido uma decepção.

Sendo tão próximos deles, toda a minha família é convidada. Entrar em sua casa decorada com flâmulas e balões com tema nupcial faz pouco para resolver a confusão na minha cabeça agora. Eu ainda não estou animado com o casamento de Jenny, mas a ideia não faz minhas entranhas queimarem com ciúmes ou de pânico. Eu entendo agora, depois de ontem à noite, após o beijo sem importância, vejo que Jenny estava certa. Sobre tudo.

Isso é exatamente o porquê não há nenhuma boa razão para ela confessar as coisas para JD. 

Simplesmente causaria problemas para nada. Esse é o conselho que eu quero dar a Jenn, se ficasse quieta tempo suficiente para conversar.

— Não agora, Joseph. — Sai da cozinha comigo logo atrás dela. Sua boca se aperta, seus olhos são cansados e apagados de remorso. Está estressada, mas o que é pior, ela é culpada.

— Jenny, me dê um segundo. — Mas já na sala de estar, movendo-se através de um mar de pessoas, cada um concordando com a cabeça, sorrindo e falando. O céu lá fora é da cor de fumaça cinza, rapidamente tornando-se para o carvão, para o que todos estão aqui dentro. Na sala de estar, olhos de JD acendem quando Jenny entra na sala. Ela bate os olhos para ele com uma expressão que não posso ler.

— Não diga nada, Jenn. Ainda não. — Digo contra seu cabelo.

Ruby caminha ao redor da casa com um microfone, jogando bingo nupcial. — Tudo bem. Todos vocês, que sabem o mês e dia, que JD e Jenny tiveram e seu primeiro encontro? Marque-o em seu cartão. — Ela inclina-se para a pequena e velha Sra Fletcher, que é surda como um poste, e no microfone grita: — O primeiro encontro, Sra Fletcher!

A Sra Fletcher acena e, em seguida, escreve a data de hoje.

— Seja honesta — diz Jenny a si mesma — a verdade vos libertará.

Não, sei por experiência que a verdade pode pousar sua bunda como uma cela num cavalo. É como a verdade surge que faz toda a diferença.

Se move para frente, antes que possa agarrar-lhe o braço.

— Aí vem minha menina. — Diz JD de seu assento.

A vejo engolir sua saliva enquanto se senta ao lado dele. E parece que pode realmente vomitar quando diz: — Há algo que eu preciso te dizer.

- Ei, JD. — chamo. — Você quer sair e jogar bola?

Ele levanta um dedo para mim e seus olhos escuros estreitam enquanto observa Jenny com uma mistura de preocupação e curiosidade. — O que é isso, bonita?

— Muito bem, todo mundo se prepare para o próximo! — Anuncia Ruby no microfone. Está entre as cadeiras de JD e Jenny. — Jenny vai dar a todos!

E é como um acidente de trem. Um movimento lento, um choque imparável.

Ruby abaixa o microfone à boca de Jenny assim que ela confessa: — Beijei Joseph noite passada.
Choque.

Todo mundo para, olha, ninguém se move. Mesmo a velha Sra Fletcher claramente ouviu. — Hah! — Ela sussurra com prazer ao seu companheiro Bingo. — Sabia que o menino não iria deixá-la ir tão facilmente.

Mas uma outra voz que me captura, pega alguma coisa dentro de mim, e se contorce.

— A beijou na noite passada?

As palavras são sussurradas com convicção... e descrença. Mas é o olhar nos olhos de Demi que quase me faz de joelhos. Aflição. Dor não diluída, puro, que nem sequer tenta esconder.

E é como se eu pudesse ler sua mente, ver os seus pensamentos. Ela está pensando em nosso tempo sobre o rio, ligando os pontos. E que está assumindo que a usei. Eu voltei para ela para terminar o que comecei com Jenn. Está tudo bem fodido em seu rosto.

— Dem... — Dou um passo em direção a ela para explicar, para afastar aquele olhar, mas me dá as costas, saindo da sala.

Com o público ainda em silêncio, Ruby limpa a garganta e fala no microfone. — Pastel... e licor... pastel será servido na varanda, se vocês me seguirem. — Ela faz um gesto com a mão.

A sala é rapidamente esvaziada, deixando apenas Jenny, JD, eu, nossos pais, e meu irmão mais velho.

Os olhos castanhos de JD olham para ela como se estivesse esperando que continuasse, mas não pode decidir se realmente quer que faça. Não parece zangado. Parece surpreso. Destruído.

Como... como um filhote de cachorro que acaba de ser expulso.

Respira fundo e diz: — Jenny... eu sei que não sou emocionante. Eu não tenho um trabalho chamativo, eu não sou o quarterback estrela, eu sou um cara simples. Eu gosto de coisas simples. 

Coisas tranquilas, como segurar a sua mão, e assistir TV com os braços ao seu redor. Eu sou apenas um homem que te ama mais do que jamais vai amar qualquer coisa. — Se endireita. — Mas não vou lutar por você. Este não é o ensino médio ou um filme, somos adultos. Você deve decidir o que você quer. Quem quer. E isso tem que ser agora.

Os dedos de Jenny se enrolam em torno de si suplicantes. — Eu decidi. Quero você, JD, eu te amo.

Suas palavras parecem incomodá-lo mais. Empurra seu cabelo escuro, braços apertados, as mãos enroladas em punhos. — Você tem certeza sobre isso? Porque não parece com amor de onde eu estou de pé.

Eu acho que é hora de intervir. — Olha JD...

— Oh, cale-se. — Rosna.

Desculpe-me?

— Eu estou até aqui com você! — Ele aponta para o topo da sua cabeça. — Tudo estava bem até que você voltou. Você era um idiota na escola, e agora você ainda é um idiota!

Pressiono minha mão no meu peito. — Jenny disse que você pensava que eu era uma lenda.

— Um idiota legendário! Sempre andando ao redor como se fosse melhor do que nós, muito bom para esta cidade. Foda-se!

Estou insultado.

— Bem, certo como a merda que era melhor do que você, maldito gandula.

De repente, JD muda de um filhote de cachorro a um Rottweiler. Um que morde.

— Era o auxiliar técnico. — Grita. Logo se joga sobre a mesa, agarrando-me pela cintura, indo os dois para baixo. — June grita.

Jenny geme: — Oh, inferno.

Minha perna pega a perna da mesa de café, assim a lâmpada acima dela cai no chão.

E Carter diz: — Finalmente! Isso é o que eu estava falando. Lavem a negatividade! Retirem tudo, pessoal.

Passo meu braço contra o peito de JD, tentando tirar vantagem.

— Eu pensei que você não estava indo lutar. — Brinco.

— Eu mudei de ideia! — Rosna. Então ele me dá um soco no olho.

Minha cabeça se move bruscamente para o lado, mas volto, dando um gancho de direita em sua mandíbula, fazendo meus dedos pulsarem. Ataques e rosnados, chutes e socos. Mas em apenas alguns minutos, Wayne e meu pai decidiram que o suficiente é o suficiente. Pegam cada um pelo pescoço e arrastando-nos, nos separa.

Ofegante, JD sacode o aperto de Wayne, mas não vem para mim novamente.

Olha Jenny e diz: — Terminou aqui.

E a porta da frente se fecha atrás dele.

Após a saída de JD, Ruby anunciou que a festa tinha acabado e mandou todos para casa. Em seguida, jurou a todos que ia nos colocar no programa de Jerry Springer² em setembro. Vinte minutos depois, estou na mesa da cozinha, segurando um saco de ervilhas congeladas no meu olho inchado. Jenny se senta em uma cadeira ao meu lado, enquanto nossa filha anda entre nós.

² Apresentador de um programa conhecido nos Estados Unidos por mostrar histórias de pessoas reais, mas estranhas, histórias como as observadas nas telenovelas: infidelidade, engano e, por vezes, violência.

Mary para em frente de mim. — Usamos nossas palavras para resolver os problemas aqui, não nossos punhos. — Ela anda um pouco mais. Então olha para Jenny severamente. — E você feriu os sentimentos de JD. Você deve pedir desculpas.

Acenamos tristes em uníssono.

Conseguir que sua bunda seja chutada por uma menina de onze anos de idade não é divertido em nada.

Mary balança a cabeça e sacude o dedo. — Estou muito desapontada. Com ambos. Eu quero que sentem aqui e pensem sobre o seu comportamento. E da próxima vez, eu espero que possam tomar melhores decisões. — Com um hum de reprovação final, ele se afasta, deixando-nos inquietos.

Silenciosamente Jenny mastiga suas unhas. É o que ela faz quando está nervosa, e não é preciso ser um gênio para adivinhar o que a preocupa.

— Desculpe, Jenn. Eu não queria... — Faço uma pausa, por que o fim do casamento de Jenny e JD era exatamente o que eu queria. Eu pensei que me sentiria vitorioso, outro ponto na coluna da vitória.
Mas eu me sinto como merda.

Ela apoia a mão na minha perna. — Tudo bem, Joseph. Não é sua culpa.

Olho para ela. Esperando.

— Tudo bem, sim a culpa é sua. Mas eu também fiz a minha parte. Se eu tivesse dito desde o início, permitindo-lhe se acostumar com a ideia, nós não...

A porta da frente se abre com um golpe, soprando folhas, pequenos pedaços de terra e... a cara de bunda de Jimmy Dean.

Jenny se levanta quando ele entra na sala, o rosto duro e o cenho franzido. Mas há algo mais em seus olhos.

Medo.

— Voltou. — Respira.

— Eu tive que voltar. Para me certificar de que Mary e você estavam bem. — A puxa para seus braços, e o Rottweiler está de volta em sua gaiola. — Uma tempestade se aproxima. — Me olha. — Disparou a advertência de furacão, ouvi que se aproxima da cidade. O rádio foi cortado na viagem de volta, mas parecia que estava por vir.

Merda.

Ver tornados é bastante comum nesta parte do Mississippi. Nós os tratamos da maneira que a Costa Leste opera uma tempestade de neve, com cuidado saudável e preparação, mas na realidade ninguém espera o Armageddon mostrando nos filmes.

Mas um aviso significa que um tornado realmente tocou baixo. E se você está no seu caminho, isso é um problema do caralho.

Ao mesmo tempo, todos se movem, trazendo móveis do jardim, bloqueando as janelas. Nem todas as fazendas têm uma adega de tempestade, mas esta tem. O pai de Jenny pega o kit de primeiros socorros debaixo da pia, todos se reúnem na cozinha, e saem pela porta de trás. Mas quando eu olho em volta, meu coração fica preso na minha garganta, bloqueando o ar.

— Onde está Demi?

Caminho de volta para a sala de estar, olhando. Eu abro a porta para verificar o quintal, e tenho que forçar minhas pernas contra uma onda de vento que parece como se o próprio Deus estivesse tentando me bater na bunda.

— Ela estava andando. — Fornece Ruby, com o rosto pálido e tenso.

— Quando? — Eu grito.

— Um tempo antes da luta. Ela saiu pela porta de trás e simplesmente continuou andando.

Puro pânico frio sobe nas minhas pernas, como se afundando em areia movediça. E milhares de cenas horríveis passam pela minha cabeça. Demi sendo derrubada por estilhaços, sangrando e gritando o meu nome. Preso sob uma árvore caída, seus olhos sem vida. Correndo, quase alcançando a casa... antes de ser arrastada pela massa cinzenta monstruosa. Indo, como se ele nunca tinha estado aqui.
Seu nome borbulha no meu peito e cerro os dentes para não gritar.

— Eu tenho que encontrá-la.

Na cozinha, eu lhes digo: — Todos continuem, irei procurar por Demi.

— Papi! — Mary joga seus braços em volta da minha cintura e eu posso sentir sua agitação. —Papai, por favor, venha com a gente. Não vá!

Seu terror, sua necessidade corta-me através do meu peito como um facão, quebrando-me em dois. Ajoelho-me, olhando nos olhos dela, tocando seu rosto. Eu coloquei tudo o que eu tenho em minhas palavras para confortá-la. — Vou voltar. Eu juro, Mary, vou voltar.

Seu lábio treme.

Acaricio seus cabelos e tento dar o meu sorriso. — Não podemos deixar a senhorita Demi lá fora, menina. Vou procurá-la e depois vamos vir diretamente para você. — Eu olho para Jenny, que está segurando a mão de JD. E eu sei o que tenho que fazer.

Pego Mary em meus braços, beijando seu rosto. — Você vai estar com sua mãe e JD. Eles vão mantê-la segura.

Eu abraço uma última vez, e depois a entrego.

A JD.

Eu nunca me vi deixando a minha filha sob os cuidados de outro homem. Eu nunca imaginei que um cenário onde isso estaria bem. Mas não há ciúme, nenhum desejo de nocauteá-lo e arrebatá-lo de volta... Eu sou apenas grato que Jenny não está sozinha.

Ela murmura algo para nossa filha e acena para mim, gratidão em seus olhos. Como um presságio, há um ruído no exterior, tirando-nos para fora do momento. Minha mãe apressa todos para a porta. 

Quando JD vai, eu agarro seu ombro, falando mais com os meus olhos, para não assustar o pacote precioso que segura em seus braços.

— Assegure-se de fechar a porta atrás de você. Você entende o que estou dizendo?

Não espere por mim, é o que estou dizendo. Bloqueia a maldita porta e mantenha fechada, mesmo se eu ainda estou do lado de fora, nada mais vai tocar.

Acena, o rosto solene. — Sim, eu entendo, Joseph.

Viro-me e vou até a sala de estar.

— Ei, espere! — Me chama. Olho para trás e JD me lança um conjunto de chaves. — Seu irmão colocou pneus de merda em sua caminhonete e vão ficar presos na lama. Tome o meu.

Eu olho para as chaves na minha mão, então eu olho para ele. Assente. Assinto. E isso é tudo o que há para fazer.

Demi estava certo quando disse que os homens são criaturas simples. Com esta troca fácil, eu concordei em não ficar no seu caminho com Jenny, e ele concorda em não me dar uma razão para matá-lo. Dentro e fora.

Corro para a porta e para a caminhonete. A dura realidade que eu não tenho ideia de onde Demi está me consome, empurra em meu cérebro, ameaçando quebrá-lo. Eu conheço a propriedade Monroe, assim como a minha. Se saiu pela porta de trás, há uma boa chance de que estava indo em direção ao milharal.

A menos que se vire.

— Maldita seja! — Eu grito, batendo no volante, tentando dirigir rápido o suficiente para cobrir mais terreno, mas ainda olhando para os campos por um sinal de onde ela poderia estar. A caminhonete vibra com o vento e granizos do tamanho de ervilhas que saltam para o para-brisa. Eu penso nela neste clima, sozinha, desprotegida. Está com frio? Está com medo? Cada músculo do meu corpo congela com o pensamento.

—Vamos lá, querida. — Pronuncio com os dentes cerrados. — Onde você está?

Eles dizem que quando você morre, a vida passa diante de seus olhos. Eu não sei se isso é verdade. Mas eu sei com certeza que há um ponto onde você tem medo por alguém que você se importa... alguém que você ama torna-se tão intenso, tão paralisante, que todo o resto desaparece. E você está consumido com pensamentos dela: a maneira, o cheiro, o som de sua risada, a voz. Todo momento que eu compartilhei com Demi passam através da minha mente, como um filme mudo. Demi ao meu lado em um tribunal, debaixo de mim na cama, os dias brincando e conversando, as noites que gemeu e suspirou. E cada imagem faz-me querer mais. Mais tempo. Mais memórias. Cada momento que nós ainda não compartilhamos, todas as experiências que não tivemos, todas as palavras que eu nunca disse. Eu preciso deles. Necessito.

Mais do que eu já precisei de alguém. De ninguém.

Eu fecho meus olhos e rezo uma oração silenciosa, pedindo e implorando. Por outra chance de acertar. Para reviver cada segundo com ela, tratá-la com o respeito que sempre mereceu.

Para cuidar dela.

Por favor, Deus.

E quando abro meus olhos, tenho que acreditar que Deus me ouviu. Porque eu a vejo ao longe, seu cabelo chicoteando, tropeçando no vento e aqueles saltos malditos de dez centímetros. Meu primeiro pensamento é: Obrigada senhor, está segura. Meu segundo pensamento é: eu vou estrangulá-la.
Eu conduzo rápido e os freios da caminhonete gritando quando eu os pressiono a poucos metros de onde ela está. O vento empurra e o granizo cai enquanto deixo o caminhão e caminho em direção a ela. Fora do veículo, bombardeiam meu rosto e ombros em fragmentos de gelo.

Minha voz ressoa mais alto que o vento. — Que parte do gado está agrupado, porra, me diga que você não ouviu?

— O quê?

E então a tenho. Em meus braços, no meu peito, quente e viva, que está sendo espremida com tanta força que pode não ser capaz de respirar. Mas eu não posso deixá-la ir.

— Não faça isso de novo. — Digo severamente ofegante contra sua orelha.

Ela olha para mim com os olhos abertos e tão bonitos que me faz estremecer.

— Não fazer o quê?

Empurrou o cabelo para trás, segurando seu rosto. E minha voz falha. — Ir.

A pressiono contra mim, apertando, abrigando-a com a minha própria carne e sangue. Meu corpo suspira, meus ossos são afrouxados com alívio porque está aqui, inteira e segura.

Mas a segurança, como tantas outras coisas que pensamos que podemos controlar é uma ilusão. 

Porque quando eu me virar para abrir a porta da caminhonete e colocá-la dentro, mantendo Demi protegidas atrás de mim, uma aguda e penetrante dor aparece contra minha pele...

E o mundo se torna escuro e silencioso.


Um comentário:

  1. Mari, como tá o andamento da a sexóloga!? Estou amando essa também, mas ansiosa pela a sexóloga!!! Nos dá notícias... bjos, Luly!

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