15.5.17

Capitulo 21

CAPITULO 21

Joseph

Quando eu era jovem, o pregador nos dava sermões sobre o inferno. O fazia soar como dentro de um vulcão, com seus lagos de fogo, lava derretida e profundidades dolorosas. Mas eu não acredito que o inferno é fogo e enxofre.

Eu acho que o inferno é a sala de espera de um hospital.

Cada segundo que passa interminavelmente lento, é como um relógio com pilhas gastas. Frustração, medo, mesmo tédio, é tão poderoso que pulsam na cabeça.

— Nana vai morrer, papai?

Mary está sentado ao meu lado, apoiando-se contra mim, com meu braço em torno dela. Demi está do outro lado, segurando minha mão. Jenny foi à procura de informações, mas mesmo trabalhando aqui, a única resposta que pode chegar é "à espera para os exames." JD traz-lhe café e diz-lhe para tentar se sentar. Os pais de Jenny e os meus estão espalhados ao redor da sala de espera, junto com um punhado de vizinhos que têm famílias lesadas pela tempestade.

— Eu não sei baby. — Acaricio lhe o cabelo. — Nana é uma mulher forte. Você deve pensar sobre coisas boas, fazer uma oração.

Só então, o Dr. Brown sai e June, Wayne, Jenny, JD e Ruby se reúnem ao redor. — Foi um ataque cardíaco. — Diz ele, olhando para a mãe de Jenny. — Um grande. Mas está estável. Ela estará aqui por alguns dias. Devemos fazer mais alguns exames, mas parece não haver nenhum dano duradouro.

Há um suspiro pesado e coletivo de alívio. June pergunta: — Podemos vê-la?

— Sim, pode ter visitas, um de cada vez. Mas ela está chamando Joseph. — Respondeu o doutor.

E os suspiros tornam-se uma onda de "o que no inferno ".

Eu me levanto. — Eu? Está seguro?

O olhar em seu rosto diz que Nana foi bastante exigente sobre isso. — Foi muito insistente.

Meu olhar encontra Jenny, ambos perplexos. Então eu dou de ombros e sigo Dr. Brown pelo corredor, deixando June Monroe reclamando na sala de espera como uma galinha cujo ovo foi removido.

Me deixa fora da porta do quarto de Nana. Eu abro lentamente e caminho cautelosamente, consciente de que estou entrando no quarto de uma megera que ameaçou atirar em mim em mais de uma ocasião, e pode ter guardado uma seringa ou um bisturi, que tem toda a intenção de jogar na cabeça.
Ou em algum lugar abaixo.

Mas quando eu entro, é apenas Nana em uma cama de hospital com cobertores até o queixo. E pela primeira vez na minha vida... parece frágil. Velha.

Fraca.

Quando eu engulo, sinto o gosto das lágrimas na parte de trás da minha garganta. Eu não acho que isso me faz menos um homem por admitir. Tem sido um inferno de um dia.

E um herói precisa de seu inimigo. É apenas nesta fração de segundo eu percebo o inimigo maravilhosamente formidável que sempre foi para mim, Nana. Como ruim seria... como eu iria sentir falta dela... se ela já não pudesse preencher esse papel mais.

Suas palavras seguintes, ofegante e fracas, bastam para trazer essas lágrimas aos meus olhos.

— Olá rapaz.

Eu sorrio, e digo com a voz ligeiramente embargada: — Senhora.

Sua mão frágil bate no espaço ao lado dela e eu sento na cadeira ao lado da cama.

Ela olha para mim com os olhos cansados, mas determinados, determinada a dizer o que ela tem a dizer.

— Você sabe por que eu nunca gostei de você, rapaz?

Limpo o nó na minha garganta e respondo: — Porque eu engravidei sua neta?

— Hah! — Ele faz um gesto com a mão de descarte. — Não. Minha June foi cozida dois meses antes que eu tivesse a chance de dizer meus próprios votos.

Isso é mais informação do que certamente precisava saber.

— Será que é porque eu não me casei com ela? — Tento novamente.

Ela balança a cabeça. — Não. — E toma um fôlego. — É porque, mesmo quando você veio pela primeira vez à procura de minha neta, uma menina de doze anos de idade, com nada além de uma bola de futebol... mesmo assim, eu podia ver onde estavam indo. Você tinha um olhar em seus olhos, um desejo de estar em outro lugar, a forma como um cavalo parece com uma porta fechada, apenas à espera de alguém para deixar o fecho aberto. Ansioso para sair.

Assinto lentamente, porque não é errado.

— E eu sabia... que se você tivesse a chance... iria levá-la com você. — Seus olhos vidrados me olham, olhando através de mim.

— Mas já não vai levá-la com você, não é, rapaz?

Solto um suspiro e inclino-me para trás na cadeira. Todas as coisas que foram me torturando, que foram acontecendo na minha cabeça nos últimos dias, de repente estão esclarecidas. Tão claras. 

Como uma resposta simples.

— Não, senhora. Não.

O rosto de Nana relaxa um pouco e parece aliviado por ter a confirmação. — Alguns cavalos gostam de ser presos. Pertencer a alguém, ser apascentados em áreas que eles conhecem... eles não têm nenhum desejo de se aventurar.

E eu penso em cada conversa noturna no banco do rio que Jenny e eu compartilhamos, cheias de fogos e sonhos. Diferente. E na minha mente vejo o que aquele rapaz de dezessete anos não: o entusiasmo de Jenny foi sempre para mim, mas nunca para nós. Porque seu coração estava aqui, nesta pequena cidade com seu povo quente. Não tinha necessidade de mais... e eu estava fora.

— É importante — Nana diz, batendo no meu lado — que a mulher não se sinta como a irmã feia. A segunda escolha. Isso é uma amargura que não adoça.

Observo-a piscando. — Como você sabia...?

— Só porque estou ficando cega, não significa que não veja.

Eu fecho meus olhos e rosto de Demi ganha vida. Seu sorriso, sua risada, a boca afiada, os braços que podem prender-me com tanta força e ternura, que eu ficaria feliz em ficar num deles por cada momento da minha vida.

Cubro o rosto com as mãos.

Droga.

— Eu estraguei tudo, senhora. Tudo. Muito ruim.

— Bem, então corrija. — Ela diz ironicamente. — Isso é o que os homens fazem, consertam as coisas.

— Eu não sei por onde devo começar. — Eu olho para a minha mão. — E antes que diga "no início" já começou. Como é que eu vou mostrar que tem sido sempre ela, quando tudo que eu disse, tudo o que fiz, a fez pensar que não era?

Um sorriso aparece nos lábios de Nana. — Meu Henry, que Deus tenha sua alma, não era um homem prático. Uma vez ele me comprou um galpão de jardinagem para armazenar as minhas ferramentas. 

Ele veio com instruções em dez línguas. Henry construir aquilo foi a coisa mais patética que já vi. 

Paredes tortas, portas de trás, então... tirou peça por peça e começou novamente. Demorou um pouco de tempo, mas valeu a pena, porque no final, aquele pequeno galpão... ficou perfeito. Você tem que começar de novo, também... desde o início.

Penso em quando estaremos de volta a Washington DC. Todas as coisas que eu quero fazer por ela, todas as palavras que eu quero dizer... começar de novo. Mostrar-lhe. Mas terá que ser depois do casamento. Depois que as coisas estiverem organizadas aqui com Jenn. Assim, Demi vai ver com seus próprios olhos que eu venci. Que o que eu compartilho com Jenny não diminui o que sinto por ela. Então não terá nenhuma dúvida... e acreditará em mim.

Nana franze o cenho. — Agora, não vá dizer a ninguém o que discutimos. É privado. Eu tenho uma reputação a defender.

Eu ri. Por causa do aviso de Nana e porque agora eu tenho um plano.

Ela aponta para a porta. — Vá, então. Traga minha filha aqui antes que derrube a porta.

Me inclino, levo minha vida em minhas mãos, e dou a Nana um beijo na bochecha. — Obrigado senhora.

— De nada rapaz.

De volta à sala de espera, eu digo a June que pode ir. Então eu atendo o olhar interrogativo de Jenny.

— Está bem. — Aperto seu ombro. — Não se preocupe, esta mulher é dura demais para morrer.

Jenny ri, me abraçando com alívio. Quando eu vou embora, digo que eu estou levando Mary para os meus pais, para passar a noite. Então eu coloco meu braço em torno de Demi, e nós três passamos pela porta.


2 comentários:

  1. Estou amando... mas os capítulos tão pequenos. Vc podei postar 2 capítulos pra nossa alergia né.
    Principalmente a mim, que estou com o pé quebrado, e não posso fazer nada além de ler.

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  2. Deus como eu tô amando essa história ❤🙏

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