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JOE VESTIU as roupas que Demi lhe jogara e esperou que ela voltasse. E esperou.
E esperou. E esperou.
Uma hora mais tarde, quando ele já concluíra que ela iria deixá-lo esperando, ouviu uma batida seca na porta. Ela não esperou que ele respondesse. Entrou com os braços carregados de jogos. – Eu nunca ouvi falar nesses jogos. Você não tem Monopólio, Palavras Cruzadas ou Gamão?
– Não.
– Não.
Ela colocou os jogos sobre a cama.
– Escolha um.
– Ah – Ele disse, pegando o jogo do topo da pilha. – Este aqui.
– Eu nunca… – disse ela, lendo o nome do jogo. – O extravagante Jogo da Verdade. Hum… Parece interessante. Concordo.
– Na verdade, é um jogo com bebidas. É preciso ter uma garrafa.
– Eu não vou deixar que você beba. Você está se recuperando de uma febre.
– Pense nisso como medicinal. Uísque e água – com muita água – para eu não ficar desidratado.
Além disso, eu nunca perco nesse jogo. Você é quem vai beber.
– Ah, não. Isso me parece um desafio. Considere-o aceito. Eu sou muito competitiva.
– Já reparei. A bebida está sob o balcão do bar.
Ela saiu e, poucos minutos depois, voltou, trazendo uma garrafa de brandy de pêssego e dois copos. Serviu um pouco em cada copo.
– Beba quando perder.
– Eu não vou perder.
– Veremos – falou ela, dando-lhe um olhar significativo tão encantador que ele quase riu. – Como se joga essa coisa?
– É muito simples. Você joga o dado, vai para a casa indicada no tabuleiro e, se a afirmação feita nele for verdade, você anda para o próximo. Se for mentira, você bebe e joga os dados novamente para a próxima jogada.
– O que impede que alguém minta?
– Eu não minto. Você mente?
– Não. A pergunta é hipotética.
– Se você for apanhada numa mentira, como castigo deverá beber o dobro.
– Ah, então esse jogo faz de você um mentiroso bêbado.
– Apenas se você não disser a verdade.
– Estou pronta a lhe dar uma surra – falou ela, sacudindo o dado, enquanto ele abria o tabuleiro no meio dos dois, em cima da cama. O dado mostrou três, e ela fez a peça andar três casas. Inclinou-se para ler o que estava escrito.
– Ei, essas perguntas são todas de natureza adulta – disse ela.
– Esse é o jogo. – Ele deu uma piscada para ela. – É demais para você? Podemos jogar “Velha Solteirona”.
– Está me chamando de puritana?
– Você está ficando vermelha.
– Ótimo. – Ela passou a mão na cabeça, comprimiu os lábios, formando uma linha, e leu a frase que estava no quadrado. – Nunca… me deram palmadas durante as preliminares.
Joe riu. Apostaria um milhão de dólares que Demi nunca tinha feito algo tão fora do convencional. Não que uma boa palmada fosse algo excêntrico.
– Verdadeiro ou falso, anjo? Se for verdade, você vai para a próxima casa. Se for mentira, você tem de beber.
Hesitante, ela bebeu um gole de brandy.
– Olhe só para você – debochou Joe. – Demi gosta de palmadas. Não admira que você queira me bater.
– Eu não disse que gostei. – Ela ergueu a cabeça, mas o rosto dela estava consideravelmente vermelho. – Jogue, é a sua vez.
Joe jogou o dado, e ele caiu no seis.
– Nunca… fiz ménage à três – leu ele.
– Verdade ou mentira?
Ele andou uma casa. Demi estalou os dedos.
– Eu contesto. Eu sei que você está mentindo.
Os dois se fitaram.
– Posso ter sido promíscuo até o ano passado, mas nunca fui para a cama com mais de uma mulher de cada vez. – Ele sustentou o olhar dela por mais tempo do que deveria. Seria maldade provocá-la?
– Quando estou com uma mulher, ela tem toda a minha atenção.
Demi visivelmente engoliu em seco e fugiu do olhar dele, como se fugisse de veneno. – Tome um gole – disse Joe.
– Por quê?
– Quando contesta alguém que não está mentindo, você deve beber uma dose.
– Você não explicou isso antes.
– Estou explicando agora.
Ela sacudiu e jogou o dado com as mãos trêmulas.
– Nunca… fui presa. – Com um olhar de desgosto, ela bebeu mais um gole de brandy. – Nesse passo, estarei bêbada antes de chegarmos à metade do jogo.
Ele nunca esperara isso.
– Um verdadeiro passarinho na gaiola, não é?
Ela empertigou os ombros em uma atitude de desafio.
– O que foi? Foi numa manifestação de protesto.
Ele leu a frase da casa onde caíra.
– Nunca… fiz sexo em um colchão de água. Não. Também nunca fiz isso.
– Mas fez sexo em uma cama na água – observou ela.
– Não é isso o que diz o quadrado.
– Eu também contesto essa.
– Demi, Demi, Demi. Que idade você acha que eu tenho? Eu não nasci nos anos 1970, no auge da loucura por colchões de água.
– Bem, nem eu, mas eu dormi em um colchão de água.
– Mas você fez sexo nele?
– Não, mas a pergunta não foi para mim.
– Touché. Beba um gole.
– Por quê?
– Eu não estava mentindo, e você me contestou.
Ela deu um suspiro e bebeu tão pouco que mal molhou os lábios.
– Tudo bem. Está feliz agora?
– Muito – concordou ele.
– Minha vez. – Ela jogou o dado novamente e andou duas casas. Estava ganhando dele em matéria de beber. – Nunca… mandei uma mensagem para um ex, estando bêbada. Ah, por fim, algo que eu não fiz.
Joe jogou.
– Nunca… corri despido na rua. Tudo bem isso eu fiz. – Ele bebeu um gole de brandy.
– Você correu pelado?
– A-hã.
– Onde?
– Durante a formatura na faculdade.
– É sério? – exclamou ela.
– Não foi um dos meus melhores momentos, mas, sim. Foi um desafio.
– Se a pessoa o tivesse desafiado a pular do alto de um edifício, você teria pulado?
– Você está falando como minha mãe.
– Não acredito que tenha corrido nu. Que constrangedor.
– Ei, eu não fui apanhado. Não tenho ficha na polícia, senhorita engaiolada.
Demi leu a próxima frase.
– Nunca… dormi com alguém casado. – Ela fez uma cara estranha e olhou para ele de soslaio.
A sensação o atingiu no estômago, e Joe percebeu que ela iria mentir.
– Não. Nunca fiz isso. – Ela empurrou a peça para a próxima casa.
Ele deveria deixar passar. Por mais que o instinto dele dissesse que ela estava mentindo, não era da conta dele. Era apenas um jogo tolo.
– Contesto – falou ele em um tom tão cortante que o surpreendeu. Ela se assustou.
– Como assim?
– Contesto. Acho que você dormiu com um homem casado. – Que importância isso tinha para ele? Por que, de repente, ficara tão furioso?
Ela ficou muito pálida.
– Eu não quero mais jogar este jogo – disse ela, pulando da cama.
Joe não iria deixar que ela escapasse dessa. Pegou-a pelo cotovelo.
– Demi? – Ela tentou soltar o braço, mas ele não a largou. – Fale comigo.
As lágrimas brilharam nos olhos dela e quase o derrubaram. Ele a soltou imediatamente. O que acontecera?
Ela abaixou a cabeça, afastou-se e lhe deu as costas.
– Esqueça. Eu não deveria tê-la pressionado. Não é da minha conta. – Ele fechou o tabuleiro e guardou as peças na caixa. Por que estragara uma noite perfeita?
– Eu menti porque me envergonho muito de mim – balbuciou ela. – Eu não sabia que ele era casado quando começamos o romance.
– Era o tal cara rico? O tal que a deixou com preconceitos contra pessoas que têm dinheiro?
Ela concordou em silêncio.
Joe sentiu o impulso de procurar o homem e cobri-lo de pancadas por ter magoado Demi.
– É por isso que você me irrita profundamente quando me chama de baby. Ele me chamava de baby. Como se eu fosse uma criança, um bebê. Claro, eu realmente era ingênua como um bebê. Eu aceitava as pessoas pelo que elas demonstravam. Pensava que, se alguém me tratava bem, isso significava que era uma boa pessoa.
– As aparências enganam. – Sério? Ele estava repetindo velhos ditados para ela? Joe trincou os dentes. Não sabia o que dizer.
– É a coisa de que mais me arrependo na vida. Eu decepcionei a mim mesma. – Ela chorava baixinho, os ombros tremiam.
– Shh – murmurou ele e se aproximou dela.
Ainda de costas para ele, ela se deixou cair sentada sobre o colchão.
– Não seja tão bom comigo. Eu não mereço.
– Você rompeu com ele quando soube que ele era casado, certo?
Ela ficou tensa, e ele sentiu um buraco na boca do estômago. Ela não rompera o relacionamento ao saber que ele era casado. Uau. Então, o seu ídolo tinha pés de barro, afinal. Era como descobrir que a taça da copa era feita de alumínio, e não de prata. Durante quanto tempo ele a colocara em um pedestal?
– Eu tentei romper com ele – murmurou ela –, mas, naquela noite… – Ela cobriu a boca e sacudiu a cabeça.
– Demi. – Ele afagou as costas dela. – Você não precisa me contar tudo. Você não me deve explicações.
Ela apoiou a cabeça no ombro de Joe e chorou desesperadamente.
Ele passou o braço pela cintura dela e puxou-a. Ah, droga… Ah, inferno. Não chore, anjo. Não chore. O que ele provocara?
– Você o amava muito, não amava?
Ela abanou a cabeça.
– Não, não. Não era isso.
Joe tocou o queixo de Demi e puxou o rosto dela, de leve, até forçá-la a encará-lo. Ficava arrasado ao vê-la tão atormentada.
– Tudo bem. Seja lá o que aconteceu, agora já passou. Você está aqui, comigo, a salvo.
Ele beijou a testa dela, mas isso só fez com que ela chorasse mais.
Ele beijou a testa dela, mas isso só fez com que ela chorasse mais.
– Ele… – Ela engoliu as lágrimas. – Ele disse que só acabaria quando ele dissesse que acabara. E, então… Ele me empurrou sobre a cama. Eu disse não, mas ele era maior e mais forte, e, no fim, eu acabei parando de lutar. Só queria acabar com aquilo.
– Está me dizendo que ele a estuprou?
Ela assentiu com a cabeça.
– Você não contou à polícia?
– Contei. Mas o promotor disse que não havia provas para levar o caso a julgamento. No fim, seria a minha palavra contra a de um empresário muito rico e proeminente, e eu tive um caso com ele. Eu percebi que não acreditavam na minha história. – Ela escondeu o rosto com as mãos.
A adrenalina se espalhou pelo corpo de Joe. O impulso de socar o sujeito se tornara mais forte e mortal. Ele tinha vontade de estrangular o canalha com as próprias mãos. De simplesmente matá-lo por ter magoado Demi. Joe não tinha ideia de que pudesse sentir vontade de matar. Costumava ser uma pessoa cordata. Não se enfurecia. Mas aquilo… Fora uma atitude imperdoável. Enforcar o homem seria pouco para ele.
As lágrimas de Demi ensopavam a camisa de Joe. Ele passou a mão nos cabelos dela, abraçou-a e beijou-lhe a testa de novo, carinhosa e suavemente. Nada de sexual. Apenas um gesto de consolo. A última coisa de que ela precisava era que um cara excitado a apalpasse. Joe esticou o braço e pegou um lenço de papel na estante, acima da cabeceira da cama, para Demi.
Ela secou as lágrimas.
– Eu não sei por que estou chorando por causa disso. Foi há muito tempo. Eu era caloura na faculdade. Jovem e idiota, como costumam dizer.
– Não. Idiota, não. Não se rotule assim.
– Francamente, eu achei que merecia ser punida. Deveria ter desconfiado de que ele era casado.
– Demu! – Como ela poderia pensar daquele jeito?
– Eu me senti culpada e envergonhada por ter feito um péssimo julgamento.
– Você não merecia isso!
– Se eu tivesse sido mais esperta…
– Shh. – Ele a embalou nos braços.
– Shh. – Ele a embalou nos braços.
– Eu procurei um terapeuta – disse ela. – Pensei ter superado tudo, mas, pelo visto, ainda tenho problemas.
– Ah, droga, anjo. Sinto muito.
– A culpa não é sua. Você não fez nada, mas, de certa maneira, você me lembrava ele. Pelo menos, de início, antes de eu conhecê-lo realmente.
Joe trincou os dentes.
– Odeio fazê-la se lembrar dele. Não admira que você não gostasse de mim.
– Não é você. – Ela sacudiu a cabeça. – Sou eu. Eu sou extremamente desconfiada…
– É compreensível.
– É compreensível.
– E eu estava com muito medo de me envolver com esse tipo de homem outra vez.
– Eu não sou como ele. Eu nunca, jamais, magoaria você, Demi. – Ele a fez levantar o rosto e olhar para ele.
– Eu sei, eu sei. Mas existe Taylor. Eu sei que você não é casado com ela, mas deseja ser.
Sim. Taylor. Joe soltou um suspiro. Não iria pensar no assunto agora. Não, agora ele só desejava confortar Demi. Ele afagou as costas dela.
– Se você quiser continuar conversando, sou todo ouvidos; mas, se não quiser dizer mais nada, eu compreendo.
Demi soltou um suspiro.
– Sinceramente, estou feliz por ter lhe contado. Já me sinto melhor. Você é um ótimo ouvinte, Joe. – Há algo mais que eu possa fazer?
– Escutar foi o suficiente. Obrigada por isso.
– Eu gostaria de poder fazer mais.
– O passado é passado, e eu devo esquecê-lo – Ela falou em um tom determinado. – Vamos nos concentrar em outra coisa.
– Sobre o que gostaria de falar? – perguntou ele.
– Velejar – respondeu ela com firmeza. – O mosquito da navegação me mordeu, e eu estou fascinada.
Aquele era um assunto que ele podia dominar.
– Há algo específico que você queira discutir?
– Você poderia me mostrar como usar as cartas de navegação para planejar uma viagem?
– Eu adoraria. Precisamos mesmo calcular a navegação estimada.
– O que é calcular navegação estimada?
– É como se calcula onde estamos e para onde vamos a partir daqui.
– Faz sentido. – Ela sorriu. O desespero que havia nos olhos dela desaparecera por completo. – Vamos fazer isso.
Aquele sorriso corajoso e animado tocou o coração de Joe. Ele a admirava muito. Admirava a maneira como ela lidava com as adversidades e não se deixava abater. Ela era incrível.
Você está com problemas, Jonas. Ela vai enrolá-lo no dedinho como se fosse uma biruta de vela.
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Mais um capitulo para os leitores mais lindos e fofos do mundo *---*
beijoos <3
Mais um capitulo para os leitores mais lindos e fofos do mundo *---*
beijoos <3
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ResponderExcluirPosta logo... Coitada da Dems :(
ResponderExcluirPosta maaaaais, ta perfeito <3
ResponderExcluirPostaaaaaaa
ResponderExcluirVoltei ... :)
ResponderExcluirAmei esse capítulo.. Cara jamais iria imaginar que era por isso essa implicância com o Joe. Coitada dela. Tomara que o Joe encontre ele e dê uma bela surra nesse cara.
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Fabíola Barboza <3