14.6.14

Suave - Capitulo 20 - MARATONA 2/5

 
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– EU FIZ sopa fresquinha – disse Demi com orgulho e ar de eficiência. Como uma enfermeira. Era a melhor maneira de lidar com a situação. Não era a primeira vez que ela via um paciente ter um sonho sexual causado pela febre, mas, pelo que sabia, era a primeira vez que ela estava incluída no sonho.

– Você fez sopa para mim? – Joe arregalou os olhos, admirado, e sacudiu a cabeça. – Isso leva horas.

– Não fique tão admirado. Eu não tenho muita coisa a fazer. – Ela se aproximou e ajeitou o cobertor. Curvou os dedos sobre o piso de madeira. Fique firme.

Ela tentou não ver o peito nu de Joe – ah, como se fosse possível – e enfiou as cobertas sob os braços dele. O homem podia ser modelo de roupas para a praia, não havia dúvida.

Ele se remexeu.

Ei, garota, eu estou tão constrangido quanto você.

Ela ergueu o corpo e sorriu. Faça uma cara alegre. Se funcionara para ele, por que não tentar?

– Você está me mimando.

– Você deveria estar acostumado com isso – Ela pegou a bandeja, levou até a cama e colocou-a no colo dele. Pegou o guardanapo, desdobrou-o e esticou-o em cima do peito de Joe. Pronto. Escondera o perigo.

– Por parte de pessoas que eu pago para me paparicar. A maioria não faz isso espontaneamente, por bondade de um coração generoso.

– E quanto à sua mãe? Com certeza, ela o mimou.

– Ela pagou empregados para me mimar. Isso conta? – ironizou ele.

– Ah, dobrem os sinos pelo pobre menino rico.

Um brilho triste passou pelos olhos dele, mas logo foi escondido por um grande sorriso. Ele podia ter tido uma infância rica, mas ela desconfiava de que ele se perdera na confusão de vários casamentos, divórcios e famílias misturadas. Seria por isso que, para ele, era tão fácil se deixar levar pela maré? Ela admirava essa característica: ele não deixava que os obstáculos do caminho o impedissem de aproveitar a vida. Se ela pudesse ser um pouco como ele… – Em geral, sou eu quem mima – disse ele.

– É você quem tem dinheiro – assinalou ela.

– Por que tenho a sensação de que você vê isso com maus olhos?

Ela deu de ombros e sentou na beirada da cama. O que era estranho, porque enfermeiras são treinadas para não sentar na cama do paciente. Ia contra tudo o que ela aprendera, mas ali estava ela, sentada na cama de Joe. Afinal, ele não era paciente dela. Racionalizar não desculpava aquele comportamento. Ela não entendia por que não levantava.

– O dinheiro não é ruim. O que me incomoda é gastá-lo de maneira frívola.

– Como comprar um equipamento importante, em vez de desperdiçá-lo num solário – Ele disse.

Ele estava tocando naquele assunto?

– Bem, já que você mencionou, sim. Solários são bons, mas não necessários. Equipamentos médicos são imprescindíveis.

– Os pacientes gostam de solários. Melhoram o estado de espírito deles, e um paciente feliz é um paciente mais saudável.

– Eles moram em uma ilha. Você só precisa abrir a janela. Não é preciso uma construção específica que desperdice dinheiro.

– Você conseguiu o seu equipamento.

– Só depois de ter brigado com você. Todos os outros estavam ansiosos para agradá-lo.

– Porque eu era o cara com o dinheiro.

– Você não se cansa disso?

– Do quê?

– Das pessoas gostarem de você só por causa do seu dinheiro.

Ele fingiu fazer um beicinho amuado.

– O motivo é esse? Pensei que fosse pelo meu charme e pela minha aparência encantadora.

– Você está querendo elogios?

– Foi naquela reunião que, pela primeira vez, percebi como você era especial.

Ela inclinou a cabeça e olhou-o de soslaio.

– Porque eu o irritei?

– Você foi a única pessoa que me irritou – lembrou ele. – Eu fiquei satisfeito. Você se empolga com facilidade. – Ele olhou para ela, pensativo. – Existe uma chama dentro de você, Demi Lovato.

Ela cruzou os braços para evitar que ele notasse a maneira como o corpo dela reagia ao olhar dele.

– Tome a sua sopa antes que esfrie.

– Você nunca tira folga, enfermeira?

– É algo entranhado em mim. Que posso dizer? Vai me fazer alimentá-lo?

Ele deu de ombros.

– Gostei da ideia.

– Claro. – Ela bufou.

– O que você tem contra homens ricos?

– Não é propriamente o dinheiro. É a maneira como o dinheiro faz com que eles se sintam donos do mundo. Como se pudessem ter tudo o que querem.

– Qual era o nome dele?

– De quem?

– Do cara rico que despedaçou seu coração.

Demi arregalou os olhos. Como ele adivinhara? O fel lhe subiu à garganta quando ela se lembrou de Alex Gum. Ela acreditava ter se esquecido de quase tudo. Não gostava de remoer algo que não poderia mudar.

– Quem disse que um cara rico despedaçou o meu coração?

– Por que mais você teria tanta implicância com homens ricos?

– Coma.

Ele fez uma continência, pegou a colher e separou alguns pedaços de frango, cenoura, aipo, cebola e macarrão no caldo quente. Comeu algumas colheradas.

– Hum, está realmente gostoso.

Por que ela ainda estava sentada ali? Não havia resposta. Não havia desculpa, a não ser que queria certificar-se de que ele estava comendo. Ele precisava se alimentar. Esse era o único motivo. – Fico feliz por você ter gostado.

– Você não vai comer nada?

– Eu tomei um pouco de sopa antes de trazê-la para você.

Ele comeu tudo com gosto. Ótimo. Era um bom sinal. Estava a caminho da recuperação. Provavelmente não passava de algo que duraria 24 horas. Se ele continuasse a melhorar, ela o deixaria navegar no dia seguinte.

– Que horas são? – perguntou ele.

– Quatro da tarde.

Ele ficou aliviado.

– Não é tão ruim. Estamos um dia à frente do plano, portanto, mesmo perdendo um dia, chegaremos a Key West no sábado de manhã, contanto que o tempo colabore.

– São 16h da quarta-feira – disse ela. – Você está dormindo desde ontem de manhã.

– O quê! – Ele empurrou a bandeja na direção dela. – Aqui, pegue isso. – Demi levantou e pegou a bandeja. – Precisaremos navegar a noite inteira.

– Você não vai a lugar algum esta noite.

– Quem vai me impedir?

– Eu vou.

– E como pretende fazer isso?

– Escondendo suas roupas.

– Então, eu vou navegar despido. – Joe jogou as pernas para fora da cama e, felizmente, manteve as cobertas sobre o colo, mas ela não conseguiu evitar o peito nu.

Ah, droga. Se ele levantasse, ela voltaria a ver o corpo inteiro dele. Sem se preparar. Lamentavelmente, não estava preparada para aquilo, para ele.

– Você está muito fraco…

Ele inalou o ar sonoramente, segurou a cabeça e gemeu:

– Ai…

Ela colocou a bandeja sobre a mesa e virou-se para empurrá-lo de volta sobre o travesseiro, certificando-se de manter os cobertores no lugar.

– Deite-se.

– Eu estou bem. Só sentei depressa demais.

– Você está se recuperando, mas não está em condições de velejar. O seu corpo está tentando lhe dizer isso.

– Já pensou em ser sargento? Você seria ótima para isso.

– Estou zelando pelos seus interesses.

– Sabe… – disse ele. – Se outra pessoa me dissesse isso, eu não iria acreditar, mas você…

– Eu, o quê?

– Você coloca os interesses dos outros acima dos seus. Você realmente se preocupa.

– Você parece surpreso.

– Fico surpreso porque não existem muitas pessoas como você no mundo.

Ela arrumou as cobertas. O coração dela dava voltas estranhas. Ele parecia saber exatamente o que dizer para agradá-la. Realmente, ele gostava de um melodrama. Sabia como amansá-la. – Existem mais do que você pensa.

– Você é generosa demais.

– E você – disse ela em tom severo –, precisa aprender a assumir as consequências das suas escolhas.

– O que isso quer dizer?

– Você escolheu passar a noite na chuva e ficou doente. Não pode ficar bom só porque quer.

– Está me culpando por ter ficado doente?

– Não. Estou dizendo que você precisa aceitar as consequências dos seus atos.

– Isso é duro.

– Essa é a verdade. Você tem tendência a ter pensamentos mágicos, Joe. Ele olhou para ela como se ela o tivesse atravessado com um arpão.

– Uau!

– Eu não estou dizendo isso para magoar os seus sentimentos.

– Você não me magoou. Só que… – Ele se calou.

– O quê?

– Você parece ver através de mim. Eu sou tão transparente assim?

– Para qualquer pessoa que realmente olhe para você.

– Você me vê como eu sou, não é?

– Creio que sim.

– E, ainda assim, gosta de mim?

– E quem não iria gostar de você?

– Essa é exatamente a questão. – Ele fez uma pausa. – Eu sempre acreditei que poderia fazer o que resolvesse fazer. Você provavelmente diria que foi porque eu cresci num meio privilegiado – e talvez ela estivesse certa –, mas eu sempre pareci ter a habilidade de conseguir o que queria com um sorriso.

O homem tinha um sorriso devastador.

– Mas nunca pareceu dar resultado com você – acrescentou ele.

– Eu não diria que nunca.

Ele deu um sorriso amplo e encantador. E ela caiu: sorriu também. Ei, sorrir não machucava ninguém.

– Você tem razão – disse ele.

– Você concorda comigo?

– Quando eu tinha 6 ou 7 anos, enfiei na cabeça que poderia viver na água como um golfinho. O meu pai tinha uma casa de praia, em Tampa Bay – isso aconteceu entre as esposas número dois e número três –, e eu passava os verões com ele. O meu pai tinha um pedalinho onde brincávamos. Um dia, depois de eu ter me metido em alguma encrenca, decidi que viveria com minha verdadeira família: os golfinhos. Então, pedalei até o meio da baía.

– Sozinho? – Ela ficou assustada. Conseguia imaginá-lo como menino, totalmente ignorante dos perigos a que se submetia. Ele deveria ter deixado a mãe louca de preocupação.

– Sim. Se eu iria viver com os golfinhos, não queria levar ninguém comigo. Isso teria acabado com o meu objetivo. Eu resolvi mergulhar, quando pensei que seria melhor ancorar o pedalinho, para o caso de não encontrar os golfinhos imediatamente.

– Essa história está me deixando nervosa. – Ela mordeu o lábio.

– Obviamente, eu sobrevivi; portanto, fique sossegada, pessimista. Eu pedalei de volta para casa, peguei um bloco de concreto e amarrei-o com uma corda, coloquei-o no pedalinho e retornei ao mar. – E você só tinha 6 ou 7 anos? – Ela retorceu as mãos. – Onde estavam os seus pais?

Joe deu de ombros

– Eles eram muito desligados.

Demi sacudiu a cabeça. Nenhum filho dela teria tamanha liberdade naquela idade.

– Eu soltei a âncora. Estava convencido de que iria encontrar um bando de golfinhos e nadar com eles para longe. Acreditava piamente nisso.

Ele deveria ter sido um menino aventureiro e imaginativo. Demi estava presa à narrativa dele. Ele tinha um jeito de alongar a história que a mantinha atenta. Teria sido um ótimo vendedor.

– Tomei fôlego e mergulhei de cabeça. Tudo à minha volta estava escuro e frio.

Claro. Joe jamais teria mergulhado apenas os pés antes de mergulhar em algo.

– E fiquei realmente chocado ao perceber que não conseguia ficar debaixo d’água. Eu tentei, mas a água me empurrava de volta à tona, e eu precisava respirar. Tentei respirar dentro d’água, mas, claro, só engoli água. Então me ocorreu que o motivo pelo qual eu não conseguia respirar e encontrar a minha família de golfinhos era porque eu ancorara o pedalinho e, que, se eu não tivesse para onde voltar, seria capaz de nadar debaixo d’água. Eu arruinara a minha chance, providenciando uma rede de salvação, não tendo fé na mágica.

– Você voltou a tentar sem ancorar o barco?

Ele abanou a cabeça.

– Não. O meu pai me encontrou, e eu ouvi um belo sermão. Não muito tempo depois, ele vendeu a casa de praia, mas, sinceramente, eu me convenci de que fora a minha falta de fé que estragara minha chance para sempre.

– E, ainda assim, você chamou o seu barco de Segunda Chance.

Ele deu um sorriso.

– Chamei. Apesar de tudo.

– Você precisa descansar. – Ela pegou a bandeja e se encaminhou para a porta.

– Você não vai me deixar aqui sozinho, não é?

– A ideia é essa.

– Eu estou entediado.

Para falar a verdade, Demi também. Ela passara o dia anterior lendo livros pela internet, no celular, enquanto o observava de vez em quando. Estava mais do que ansiosa para conversar.

– Tenho alguns jogos debaixo do banco da mesa da sala de jantar – disse ele. – Escolha o seu preferido.

Ela ficou tentada.

– Se você prometer se comportar.

– Defina o que é se comportar – Ele sorriu com malícia.

– Não levantar antes que eu diga que você pode.

– Não tenho certeza de poder cumprir essa promessa.

A expressão sexy no rosto dele dizia que ele estava pensando em outro sentido da palavra levantar.

Ela estava corada. Largou a bandeja em cima de uma cômoda, abriu uma gaveta e pegou uma cueca, um short e uma camiseta, e jogou para ele.

– Vista isso, e eu vou pensar se irei jogar com você.

– Não pense muito, anjo. O seu problema é esse… Você pensa demais.

– E o seu é que você não pensa o suficiente.

– Isso nos torna o par perfeito – Ele brincou. – Duas metades de um todo.

Ela voltou a pegar a bandeja.

– Imagino o que a sua amiga Taylor diria a respeito disso. – Ela se voltou para a porta, sentindo o sangue pulsar rapidamente nas veias.

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Mais um da maratona, eu espero que vocês gostem da maratona!! muito obrigada pelos comentários, principalmente os de carinho, eu amo muito vocês e isso significa muito pra mim, muito mesmo, eu agradeço por todo o carinho. Beijoos meus amores <3

5 comentários:

  1. De nada .
    Posta logo
    Tb quero acabar de ler essa mini-fic logo
    Bijos

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  2. Ola meu no me e Shirley e euSerei a sua nova seguidora
    Gostaria de dizer que tou a amando suas histórias
    É sério suas histórias estão perfeitas e você é mesmo uma ótima escritora
    Posta logo bjs

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  3. Mari, ta perfeito, não tenho nem o que falar! Posta mais, beijos <3

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  4. Se eu disser que estou amando essa mini fic, você acredita em mim Mari?! Ela está incrível!! Muito boa!! Obrigada por fazer essa maratona!! Bju linda!!

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