14.6.14

Suave - Capitulo 23 - MARATONA 5/5

 
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MEIA HORA mais tarde, com o Segunda Chance fundeado a 40m da praia, Joe e Demi nadavam na direção da pequena enseada onde o manati se debatia. Preferiram nadar a usar o bote inflável do Segunda Chance, porque temiam que as rochas pontudas furassem o bote e, já que os dois eram ótimos nadadores, imaginaram que seria mais rápido e mais fácil simplesmente nadar.

De perto, era fácil perceber que o manati estava em sérias dificuldades. Eles se aproximaram com cuidado.

Os olhos cor de ameixa do manati estavam apavorados. Ele se debatia e emitia um som agudo e anasalado de agonia, que parecia o arranhar de uma lâmina contra um para-brisa seco. Quanto mais se aproximavam, mais o animal se debatia freneticamente, e mais longos e mais altos os gritos dele ficavam.

– Calma – murmurou Joe baixinho. – Calma. Assim, garota.

– Como sabe que é uma fêmea? – perguntou Demi.

– Eu não sei.

– E eu achando que você sabia tudo que havia para saber sobre o mar.

– O mar é inescrutável – disse ele sabiamente.

Eles tiveram de nadar cachorrinho, evitando braçadas, para se aproximar do manati enrolado. Ela – Demi aceitara a hipótese de que fosse uma fêmea – olhava para eles. Os olhos do animal pareciam implorar: “Salvem-me”.

– Precisamos ajudá-la. Não podemos deixar esta criatura magnífica morrer aqui.

– Deixe-me ver se descubro o que está acontecendo. – Joe mergulhou e nadou por debaixo do manati.

– Tudo bem – disse Demi ao manati. – Ele sabe o que está fazendo. – Eu acho… O manati parecia cético.

– Eu confiaria a minha vida a ele. – Era verdade. Ela confiava em Joe. Mais do que em qualquer outro homem, além do pai e do irmão dela.

Joe emergiu, pingando água. Passou a mão no rosto e cuspiu a água salgada do oceano. – Não é nada bom.

– O que foi?

– Ela está enrolada no que parece ser um cabo de amarração. Cada vez que tenta nadar, o cabo se aperta mais em torno dela. Quando ela relaxa, o cabo cede, ela acha que está solta e avança, apertando-o de novo. Não dá para dizer há quanto tempo ela está aqui. Ela está totalmente exausta, não é, companheira? – A ternura brilhou nos olhos de Joe, e ele acariciou o dorso do manati.

Demi se comoveu. Ela fora muito dura com ele, mas Joe enfrentara a situação com dignidade. Ele realmente se preocupava com o manati.

– Se conseguíssemos mantê-la calma, poderíamos desenrolar o cabo?

– Talvez. Seria melhor se tivéssemos alicates para cortar o cabo e soltá-la, mas precisamos mantê-la calma. Ela facilmente poderia se machucar.

– Onde vamos arranjar alicates?

– Eu tenho alguns no veleiro.

– Eu fico aqui com ela e tento acalmá-la – disse Demi. – Você vai pegar os alicates.

– Tem certeza? Apesar de gentis, os manatis são criaturas selvagens. Ela está desesperada e machucada. Não se sabe o que poderá fazer.

– Eu vou ficar bem. Vá.

Ele pareceu relutar em deixá-la.

– Aqui não dá pé para você.

– Eu me viro, Joe. Sei boiar e nadar cachorrinho.

– Tudo bem, mas você está completamente sozinha.

– Preocupe-se com você. É você quem vai nadar na ida e na volta, o tempo todo.

– Que bom que eu estou em excelente forma – Ele sorriu e flexionou os braços.

– Que bom. Agora, vá.

Ele começou a nadar na direção do Segunda Chance.

– Voltarei o mais rápido que puder.

Demi sentiu um nó na garganta. Que homem! Por que chegara a achá-lo superficial? Ele era magnífico. Lágrimas inesperadas subiram aos olhos dela. O que era isso? Ela pestanejou e se concentrou no manati.

Ela nadou para perto do animal e começou a sussurrar palavras de conforto, em um ritmo tranquilizador. Acariciou o dorso do manati e ficou surpresa ao perceber que a pele dele era como a de um elefante molhado.

A atenção de Demi pareceu acalmar o animal. O manati parou de se debater febrilmente e ficou apenas flutuando. Demi deitou de costas e boiou ao lado dele.

– Isso, menina. Acalme-se, e Joe vai soltá-la rapidamente. Antes que você perceba, vai poder se juntar aos outros manatis. Será ótimo, não acha? Pense só nisso.

As habilidades de enfermeira a ajudaram a acalmar o bicho. Demi pensou em Joe e no esforço que ele fazia ao ir até o barco e voltar. Estava orgulhosa dele. Como desejava tê-lo conhecido melhor antes! Ele teria enriquecido a vida dela de maneiras que ela nem conseguia imaginar. Os acordes de “Velvet Sea”, dos Phish, vieram-lhe à cabeça, e ela se pôs a cantarolar docemente para o manati, repetindo a letra, vivendo e desfrutando o momento.

Ela saboreou o momento, registrando-o no peito como uma fotografia preferida. No futuro, se alguém lhe pedisse para dizer quais tinham sido os instantes mais importantes da vida dela, Demi teria de dizer que aquela viagem de veleiro, que culminara com o resgate do manati, fora uma das experiências mais gratificantes que tivera.

Não havia muita coisa na vida que motivasse alguém: apaixonar-se, casar, ter um bebê… A maioria das pessoas fazia essas coisas, mas quantas conseguiam salvar outro ser vivo? Ela reconhecia ter muita sorte.

– “Velvet Sea”, hein? – disse Joe.

Demi se assustou. Estivera tão imersa em pensamentos e mantendo o manati sossegado, que não o ouvira chegar.

– Phish – disse ela. – Pensei que seria apropriado.

– É uma das minhas canções favoritas sobre o mar.

– Minha também. Não que eu tenha uma coleção de canções para navegar ou algo parecido.

– Eu tenho. – Ele deu um largo sorriso. O homem estava sempre sorrindo. – Talvez, em algum momento, eu a deixe ouvir a minha coleção.

Quando seria isso? Depois do dia seguinte, nunca mais o veria. Ela começou a sentir uma pontada no peito.

– Enquanto isso, temos um manati para salvar.

Joe tirou os alicates do bolso do short.

– Estou a postos.

Estava. Demi sentiu que corava. Estava apavorada que ele pudesse ver o desejo nos olhos dela; portanto, olhou para outro lado.

– Continue cantando. Ela está muito mais relaxada do que quando chegamos aqui. Você tem uma bela voz.

Demi acariciou a cabeça do manati e cantarolou “Island in the Sun”, dos Weezers, enquanto Joe mergulhava. Ele cortou alguns fios e emergiu para respirar. Inalou o ar profundamente – várias vezes – e voltou a mergulhar para continuar a cortar.

Ela se preocupava com ele. Embora ele estivesse em boa forma, nadara por muito tempo e parecia que os mergulhos repetidos e o trabalho eram exaustivos. Cada vez que ele subia à tona, o rosto dele estava corado e a respiração parecia pesada.

Por fim, depois de 15 minutos, Joe cortara o suficiente para que o manati pudesse movimentar as nadadeiras como remos.

Segundos depois, quando ele emergiu, havia sangue escorrendo de um ferimento no antebraço. Demi gemeu.

– Você se machucou!

– O cabo me cortou.

– Quando voltarmos ao barco, eu faço um curativo.

– Você passou a viagem inteira me servindo de enfermeira.

– Não a viagem inteira.

– Tem razão. – Ele riu. – Em parte dela, você foi enfermeira de um manati. – Bem, o que posso dizer? Pássaros precisam voar. Peixes precisam nadar… – Demi precisa ser enfermeira.

Joe mergulhou uma última vez e cortou a última volta do cabo.

Eufórico com a liberdade, o manati deu um salto para frente. HDemi se jogou para trás, mas a água entrou no nariz e nas orelhas, ardeu nos olhos dela. Ela voltou à tona cuspindo, mas sentia-se renascer.

Joe se aproximou. Juntos, eles viram o manati nadar para alto-mar.

– Conseguimos – disse ela, afastando os cabelos molhados dos olhos. – Nós a salvamos.

Joe tocou o ombro de Demi.

– A sensação é maravilhosa. Estou feliz por você ter me chamado a atenção e me forçado a salvá-la.

– Viu por que eu gosto do meu trabalho? Eu me sinto assim quase todos os dias.

– É uma sensação adquirida com muita dedicação. – Ele levantou o braço e falou com ironia. – Mas vale as cicatrizes da batalha. Sim… – Ele a fitou. – Isso é algo que eu não tinha percebido até agora.

– É mesmo?

– Você me ensinou o valor do trabalho árduo e do sacrifício, Demi.

Ela levantou uma das sobrancelhas, com uma expressão cética.

– Você está zombando de mim?

– De forma alguma. – Ele deu um sorriso doce. – Venha. Vamos até a praia.

Eles flutuaram até as rochas, exaustos demais para nadar. Quando a água se tornou mais rasa, eles andaram e se arrastaram lentamente até a praia. Os joelhos de Demi estavam moles, como massa cozida. A cabeça estava pesada, e a pele dava a sensação de estar apertada, mas, ao mesmo tempo, muito solta.

O sol da tarde brilhava intensamente. Ela estreitou os olhos, viu o Segunda Chance ancorado à distância e ansiou por uma aspirina e um par de óculos escuros. Com certeza, naquele momento, não se sentia preparada para nadar durante vinte minutos.

Aparentemente, Joe também não. Ele se deixou cair deitado sobre uma enorme pedra lisa. Ficou ali, largado, com os braços cruzados em cima do abdome reto e firme, e com um leve tremor nos músculos das pernas.

– Foi um exercício extenuante.

Demi sentou ao lado dele, abraçou as pernas e apoiou o rosto nos joelhos.

Joe fechara os olhos.

Ela não conseguia deixar de olhar para ele. O homem era incrível. A imaginação dela começou a trabalhar freneticamente. Como seria senti-lo dentro dela? Ela desviou o olhar e fitou o ponto em que o manati desaparecera. O que estava acontecendo com ela? Por que não conseguia controlar os pensamentos?

Agir como enfermeira. Isso sempre ajudava.

– Deixe-me ver esse corte – falou ela.

Joe esticou o braço.

Era um corte longo e reto. Não precisaria de pontos, felizmente. De qualquer modo, ela não poderia fazer nada por ele ali. Quando voltassem ao barco, ela o limparia com um antisséptico. – Diga logo, doutora. O caso é grave?

– Você vai sobreviver.

Ele abriu os olhos e levantou a mão para proteger os olhos contra o sol.

– Está pronta para nadar de volta?

– Ainda que eu estivesse, você não está. Suas pernas ainda não estão suficientemente firmes.

– Eu dou um jeito. – Ele levantou, mas cambaleou. – Ops.

– É provável que você esteja desidratado. Diga que bebeu um pouco d’água enquanto estava a bordo do barco.

Ele pareceu envergonhado.

– Eu não pensei nisso. Estava tentando voltar o mais depressa possível.

Demi suspirou.

– Com a ação do sol e o efeito do esforço, você está ficando desidratado.

– Eu não era o único naquela situação.

A alguns metros, havia um grupo de coqueiros carregados de cocos.

– A água de coco lhe fará bem. Você tem habilidade para quebrar cocos? – perguntou ela.

– Sou especialista.

– Quebrar cocos faz parte do seu baú de truques?

– Nunca se sabe quando você vai ficar preso numa ilha deserta e precisar de uma piña colada.

Demi riu.

– Eu pego os cocos. Você reserva as suas forças para quebrá-los. – Ela levantou, limpou a parte inferior do biquíni e andou com cuidado sobre as pedras até chegar à areia. Encontrou dois belos cocos ao pé de um coqueiro. Apanhou-os e se voltou, para dar de cara com Joe atrás dela.

– Já que estamos aqui e precisamos de um bom descanso, por que não damos uma olhada no farol? – Ela indicou o farol com a cabeça.

– Estou disposto se você estiver. – Ele piscou.

Aquele estava tornando-se um dos melhores dias que ela já tivera nos últimos tempos.


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Ultimo da maratona de hoje, amanha tem mais uma maratona da mini-fic mas só se vocês comentarem :)
Beijoos <3

15 comentários:

  1. lindoooo!!!
    que pena que a maratona acabou,ansiosa por amanhã !
    bjusss fofa

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  2. Amei... Foi lindo esse capítulo eles salvaram o bichinho <3
    Quero mais ...
    Fabíola Barboza

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  3. Ansiosa para o próximo capítulo, quero só ver o que eles vão aprontar no farol.. tenho q comentar lá em "A Sexóloga" beeeijos

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  4. Ahhh que perfeito!!!
    Ansiosa para o próximo capítulo

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  5. Perfeito demais. Olha, já passou da meia noite, então você pode postar mais um aushuahs <3 beijos

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  6. Só de imaginar que o hot tá chegando......

    Posta logo

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  7. Perfeitoooo
    Eu adorei e me amarrei nesses dois ♡♡♡♡
    Tanto amor em kkk
    Divas....posta logooooo
    Beijosss para vocês ♥

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  8. Posta logoo...

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  9. Posta mais amorrrr, cade a maratona?

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  10. Não vai postar mais???? Eu quero a maratona.... Posta logoo

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  11. Mari, cade você? :( cade os capitulos?

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  12. Cadê a maratona ?

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  13. Já estou perdendo as esperanças :(

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